terça-feira, 11 de junho de 2019

Os Dois Sistemas Contrastados – Lei e Graça


Os Dois Sistemas Contrastados – Lei e Graça

Finalmente, o escritor define os dois sistemas de Lei e graça lado a lado e pede aos hebreus que contemplem qual deles prefeririam ter. Esses sistemas poderiam ser resumidos por duas montanhas – o monte Sinai (vs. 18-21) e o monte Sião (vs. 22-24).
Vs. 18-21 – A aliança legal é descrita primeiro. O Monte Sinai é onde a Lei foi dada, e representa todo o sistema do judaísmo dado por Deus por meio de Moisés. O escritor ensaia a cena solene de sua inauguração, cercada de trevas, fogo, raios, trovões, fumaça, trombetas sinalizando aviso, etc. Essas coisas simbolizavam o fato de que o Deus com Quem estavam entrando em um relacionamento de aliança era inacessível em meros termos humanos. Se o homem ou um animal acidentalmente tocassem o monte, teriam que ser apedrejados até a morte! (Êx 19:13). O povo ficou diante de Deus em tremor. Apresentando-Se nesse caráter legal, eles estavam absolutamente aterrorizados em conhecê-Lo. Até mesmo o mediador (Moisés) estava com medo e disse: “Estou todo assombrado e tremendo”. Toda a cena era algo que causaria terror no coração do mais vigoroso guerreiro.
O Deus do velho concerto era um Deus a ser temido – um Deus de julgamento. Os termos deste relacionamento legal com Ele foram: “Faça isto e faça aquilo, ou você será julgado!” Exigiu obediência, e se as pessoas falhassem em obedecer, significaria condenação e morte para elas. Consequentemente, Paulo chamou o velho concerto de “ministério da morte” e “ministério da condenação” (2 Co 3:7-9). Desnecessário dizer que um relacionamento com Deus nesses termos não é muito convidativo. Sendo confrontados com esta exibição visível do poder e majestade de Deus, o povo recuou e pediu a Moisés que fosse a Ele em seu lugar, o que Moisés fez (Êx 20:21).
Mais uma vez, as implicações aqui são óbvias. Ao lembrar os hebreus da severidade do sistema legal, sem realmente dizer em palavras, o escritor perguntava se realmente queriam voltar a isso. Queriam realmente ter um relacionamento com Deus nesses termos? É semelhante ao que Paulo disse aos gálatas que estavam querendo estar sob a lei. Ele lhes perguntou: “Dizei-me vós, os que quereis estar debaixo da lei: não ouvis vós a lei?” (Gl. 4:21). Claramente, não estavam vendo o sistema legal como ele realmente era, e isso mostra que estavam ficando cegos pelo julgamento governamental que estava sobre aquele sistema (Sl 69:23; 2 Co 3:14-15). Felizmente, uma vez que esses crentes hebreus haviam tomado o terreno Cristão professando crer no Senhor Jesus, o escritor poderia dizer: “Porque não chegastes ao monte” Sinai.
Vs. 22-24 – Ele então passa a contar aonde têm “chegado” por meio do que a graça realizou em Cristo. É um vasto sistema de bênçãos, não apenas para os Cristãos, mas para todos os nascidos[1] de Deus – alguns dos quais terão uma porção terrena de bênçãos e os outros terão bênçãos celestiais (Ef 3:15). Ele menciona oito coisas aqui. Oito é um número que sugere um novo começo. Assim, haverá toda uma nova ordem de coisas para os céus e a Terra no Milênio (Is 65:17, 66:22). A nota de rodapé em Isaías 66:22 da Tradução de JND afirma: “A conjunção ‘e’ dá a divisão dos assuntos muito distintamente aqui” (“os novos céus e a nova Terra” – ARA).
1) “Sião” – Isto é Jerusalém terrena sob a influência da graça de Deus, quando o Senhor Se levanta para restaurar e abençoar o remanescente crente de Israel. O Salmo 132:13-14 diz que o Senhor escolheu Sião como Seu lugar de descanso na Terra. Naquele vindouro dia milenar, Ele habitará ali e será o centro administrativo da Terra (Sl 48:1-3; Jr 3:17; Ez 48:35; Sf 3:5). Será também o centro para o ensino moral e espiritual (Is 2:1-3; Mq. 4:1-2) e o centro de adoração para todas as nações (Sl 99:1-9; Is 56:7; Zc 14:16).
2) “A cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” – Isso nos leva ao lado celestial das coisas. É a cidade onde os santos celestiais dos tempos do Velho e do Novo Testamentos irão habitar. Não é a cidade que o apóstolo João descreve em Apocalipse 21:9–22:5, que chama de “nova Jerusalém” (Ap 3:12, 21:2, 10). A Nova Jerusalém é um símbolo da Igreja em seu papel administrativo no mundo vindouro. Esta cidade (“Jerusalém celestial”) é aquela que Abraão procurava “cujo Arquiteto e Edificador é Deus” (Hb 11:10 – TB). W. Scott disse: “Rogamos a cuidadosa atenção do leitor à distinção entre a ‘nova Jerusalém’ do Apocalipse, que é a Igreja glorificada, e a ‘Jerusalém celestial’ de que fala Paulo (Hb 12:22). Esta última, ao contrário da primeira, não se refere às pessoas, mas é a cidade do Deus vivo, uma cidade real, a localização de todos os santos celestiais. É a mesma [cidade] que é referida no capítulo anterior, para a qual os santos e patriarcas olhavam (Hb 11:10-16)” (Exposition of the Revelation of Jesus Christ, pág. 421). Concernente à Jerusalém celestial, W. Kelly comenta: “Agora deixamos a Terra para trás e pela fé contemplamos a cidade para a qual Abraão olhou, como Deus a preparou para peregrinos e estrangeiros na Terra, a cidade que tem os fundamentos, cujo Arquiteto e Edificador é Deus. É o trono da glória nos lugares celestiais para os santos sofredores com Cristo, que também serão glorificados juntos” (The Epistle to the Hebrews, pág. 249).
3) “Miríades de anjos, à universal assembleia” (AIBB) – Isto se refere à “reunião (recolhimento) dos anjos, em cuja ocasião serão colocados sob a ordenação administrativa dos santos celestiais que irão ser glorificados. As escrituras indicam que o governo do “mundo vindouro” (o Milênio) estará nas mãos dos homens (Hb 2:5). Atualmente, a Terra está sob a jurisdição dos anjos, que agem por Deus diretamente na execução de Suas relações providenciais com os homens. Mas depois que a presente dispensação da graça termina e a Igreja é chamada para o céu, os anjos serão reunidos e dispensados de sua posição e função atuais. Naquele momento, o governo da Terra será colocado nas mãos dos santos celestiais. Os anjos ainda cumprirão os tratamentos providenciais de Deus na Terra, mas nesse dia será por meio da ordem administrativa dos santos celestiais glorificados, com a Igreja tendo um papel especial nela.
Isso é descrito em Apocalipse 4-5. Os “quatro seres viventes” representam (simbolicamente) os atributos do poder providencial na execução do julgamento na Terra. Estas não são criaturas reais, mas símbolos da capacidade infinita de Deus de governar a Terra providencialmente. Eles são descritos como “um leão” (poder), “um touro” (firmeza), “um rosto como de homem” (inteligência) e “uma águia voando” (rapidez de execução). Em Apocalipse 4, essas criaturas vivas são vistas misturadas com os anjos, e são ambos vistos como um só agindo por Deus em Seu governo na Terra. Mas em Apocalipse 5, quando o Cordeiro pega o livro, “os quatro seres viventes” são vistos separados dos anjos e misturados com os “anciãos” (homens redimidos glorificados), e atuam como uma só companhia. Essa mudança indica que a administração da Terra será transferida para as mãos de homens glorificados (Lc 19:16-19; Rm 8:17; 2 Tm 2:12; Hb 2:5; Ap 21:9-22:5).
4) “A igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” – Esta é a Igreja de Deus em sua morada final nos céus. Pela maneira que a versão King James traduz este versículo, pode-se facilmente concluir que “o primogênito” (no singular como a KJV traduz) aqui é Cristo. Muitos escritores de hinos cometeram esse erro. Cristo é certamente referido como o “Primogênito” na Escritura (Rm 8:29; Cl 1:15, 18; Hb 1:6; Ap 1:5), mas essa passagem não está se referindo a Ele. A palavra em grego está no plural e indica uma companhia de “primogênitos”. Como mencionado acima, é a Igreja a qual Cristo amou e deu a Si mesmo por ela (Mt 16.18; Ef 5:25-27). Aqueles que compõem a Igreja são chamados de primogênitos porque têm um lugar de destaque acima das outras pessoas abençoadas na família de Deus. (Na Escritura, “primogênito” significa aquele que é o primeiro em posição, tendo a preeminência sobre todos os outros – Êx 4:22; Sl 87:27; Jr 31:9).
As epístolas de Paulo revelam as bênçãos especiais que a Igreja tem e que os outros nascidos na família de Deus não possuem. Somente eles têm a bênção da filiação em relação ao Pai (Rm 8:14-16; Gl 1:1-7; Ef 1:4-5), e somente eles são membros do corpo de Cristo por meio da habitação do Espírito Santo (1 Co 12:12-13; Ef 3:6). Esta companhia especial foi escolhida pela graça soberana de Deus, não porque são melhores do que os outros em Sua família, mas porque Deus Se propôs a mostrar “a glória da Sua graça” e “as riquezas da Sua graça” diante de todos no mundo vindouro (Ef 1:6, 2:7). Ele vai mostrar ao mundo o que a Sua graça pode fazer. Para demonstrar isso, tomou os piores pecadores de entre os gentios, e por meio da redenção, colocou-os no lugar mais alto possível de bênção e favor que Seu amor poderia prover! No dia de manifestação que se aproxima (o Milênio), todo o mundo se surpreenderá com uma graça tão maravilhosa, e louvará “a glória da Sua graça” (Ef 1:6, 12, 14). (O escritor mencionou duas assembleias nesta passagem: uma assembleia geral de anjos e a especialmente convocada assembleia de crentes no Senhor Jesus Cristo – a Igreja de Deus).
5) “Deus, o Juiz de todos” – Refere-se à glória judicial de Deus sendo publicamente manifestada no Milênio. Naquele dia, Deus não somente será conhecido em graça, mas também será conhecido em julgamento, pois “há de julgar o mundo com justiça pelo Varão que para isto destinou” (At 17:31 – TB; Sl 72:1- 2, 99:4; Is 11:1-4, 32:1).
6) “Os espíritos dos justos aperfeiçoados” – são os santos do Velho Testamento. O fato de serem considerados “perfeitos”, que é o resultado de estarem ressuscitados e glorificados, mostra que o escritor está vendo as coisas como serão no Milênio. Esses santos também terão um lugar celestial no reino (Dn 7:18, 22, 27 – JND).
7) “Jesus, o Mediador de uma nova aliança” – Isso nos leva de volta à Terra; mostra novamente que o escritor tem o Milênio em vista, pois a nova aliança não será feita com Israel até então. O fato de que ele usa o nome humano “Jesus” do Senhor e não outros nomes como Jeová etc., mostra que naquele dia Israel reconhecerá que aquele Homem humilde que rejeitaram e crucificaram há muito tempo é o Messias deles. E, ao fazê-lo, serão restaurados e desfrutarão das novas bênçãos da aliança (Jr 31:31-34).
8) “O sangue da aspersão” – Refere-se ao sangue de Cristo. É a base para todas as bênçãos no mundo vindouro – tanto no céu como na Terra. Ele menciona isso em contraste com o sangue de Abel, que foi morto por seu irmão (Gn 4). O sangue de Abel foi aspergido sobre a terra e clamou em voz alta a Deus para que o julgamento fosse executado contra o ofensor – Caim. Em contraste, o sangue de Cristo foi aspergido (simbolicamente) no “propiciatório” acima (Rm 3:25), e em vez de clamar por vingança, clama por perdão para aqueles que o derramaram! As implicações aqui são novamente óbvias. Como Caim, que era culpado de matar seu irmão, os judeus são culpados de matar Cristo (At 3:14-15). Mas mesmo que O tenham matado, Deus há muito tempo concebeu uma maneira de perdoar a nação culpada pelo próprio sangue que eles derramaram! (1 Jo 1:7) Assim, os judeus podem ter, como nação, seus pecados “apagados” se simplesmente se “arrependerem” e se “converterem” (At 3:19), o que muitos farão em um dia vindouro.
Ao descrever essas oito coisas, o escritor nos levou até uma montanha (por assim dizer), da Terra aos céus e de volta à Terra novamente. “Deus, o juiz de todos”, é o ápice.
Seu ponto em apresentar esta imagem vívida dos dois sistemas lado a lado é que se qualquer judeu que, tendo tomado o terreno Cristão, estivesse realmente pensando em retornar ao judaísmo, precisava ponderar o que estaria desistindo sob a graça de Deus, e também para o que estaria voltando sob o domínio da lei. Se essas coisas fossem entendidas corretamente, qualquer desejo que alguém pudesse ter de retornar ao judaísmo certamente seria abandonado. O Sinai nos confronta com mandamentos legais, julgamento e condenação. Sião, por outro lado, apresenta-nos a graça que assegurou bênçãos celestiais e terrenas para todos os que creem, o que distancia muito de tudo o que Israel já teve sob o primeiro concerto. A decisão sobre em qual destes alguém gostaria de viver deve ser simples e direta.


[1] N. do T.: É de vital importância perceber a grande diferença entre os termos “nascido de Deus” (“uihos” em grego) e “filho de Deus” (“teknon”), como revelados no Novo Testamento, pois nos capacita a desfrutar de que não apenas somos nascidos na família de Deus pelo Seu ato soberano ao nos conceder vida divina – a qual todos em Sua família têm – mas quão distinguidos Deus nos quis tornar em Sua família ao nos trazer à posição de “filhos de Deus”, na própria aceitação que Cristo mesmo tem diante de Deus. Nessa posição temos relacionamento, entendimento e comunhão que nenhum outro “nascido de Deus” desfruta. A expressão “Abba Pai” foi apenas revelada no Novo Testamento e somente pronunciada pelos “filhos de Deus”, pois receberam o “espírito de adoção” (Rm 8:15; Gl 4:6).


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