terça-feira, 11 de junho de 2019

1) CRISTO VEIO PARA JUSTIFICAR DEUS


1) CRISTO VEIO PARA JUSTIFICAR DEUS COM RELAÇÃO À QUEDA DO HOMEM E COMEÇAR UMA NOVA RAÇA DE HOMENS POR MEIO DA QUAL O PROPÓSITO DE DEUS SERÁ CUMPRIDO

Vs. 5-13 – O escritor explica que Deus propôs que “o mundo vindouro” (o Milênio) estivesse sob o domínio do homem. Isso é algo que nunca foi dito sobre os anjos. Deus fez anjos para servir, mas não para governar. Assim, o escritor diz: “Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos” (v. 5). A única criatura que Ele fez para governar foi o homem. No entanto, sua queda tornou-o absolutamente incapaz de governar em qualquer sentido adequado (Ec 7:29). Em seu estado caído, não está apto para o propósito para o qual foi criado. Se Deus usasse o homem em seu estado caído para governar o mundo vindouro, o homem apenas o estragaria como fez com o mundo presente. Assim, a entrada do pecado aparentemente frustrou o propósito de Deus para o homem.
O escritor da epístola, em seguida, cita o Salmo 8 para mostrar que Deus enfrentaria este dilema por ter Cristo vindo e assumido a humanidade para a glória de Deus. Ele Se tornaria um Homem e assumiria as responsabilidades que o primeiro homem se sujeitou, indo à morte e fazendo expiação pelo pecado. Ao ressuscitar dos mortos, Cristo Se tornaria a Cabeça da raça da nova criação de homens que seria perfeitamente capaz de governar no mundo por vir, como Deus propôs. Esta é a primeira grande razão pela qual Cristo Se tornou um Homem.
V. 6 – O Salmo 8:4 diz: “que é o homem [em hebraico: Enosh], para que te lembres dele?” (AIBB). O salmista se maravilha com a graça de Deus que se ocupa com os homens. A palavra aqui para “homem” no hebraico é “Enosh”. Ela indica o estado fraco e frágil do homem – implicando sua condição caída e degenerada. Estamos realmente agradecidos por Deus ter Se atentado à nossa raça caída. “Se Deus pensasse apenas em Si mesmo e para Si recolhesse o Seu espírito e o Seu sopro, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó” (Jó 34:14-15 – ARA). Deus teria sido justo ao fazer isso, mas nós, como raça, estaríamos perdidos para sempre. O escritor continua sua citação do Salmo 8, dizendo: ... E o filho do homem [em hebraico: adam], para que o visites?”. Isto se refere à visita de Deus à raça humana em misericórdia na Pessoa do Filho (Lc 1:78). Em vez de pensar somente em Si mesmo e nos deixar perecer em nossos pecados, “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” para que não perecêssemos (Jo 3:16). Mas aqui, notemos, o salmista usa uma palavra diferente para “homem” no hebraico a partir do que ele havia usado anteriormente. Aqui é “Adão”, que não carrega as conotações de “Enosh”. Isso significa que quando Cristo visitasse a raça humana, ao Se tornar um Homem, não estaria no degenerado estado “Enosh”. Assim, em Sua encarnação, Ele participaria da humanidade (espírito, alma e corpo), mas não em humanidade caída. Vemos disso o quão cuidadosamente a Palavra de Deus protege a humanidade sem pecado de Cristo. O Senhor Jesus não tinha uma natureza caída pecaminosa, como o resto dos descendentes de Adão; Ele tinha uma natureza humana santa.
Vs. 7-8a – Ao Se tornar um Homem, Cristo condescendeu a tomar um lugar “um pouco menor do que os [inferior aos – JND] anjos” porque os homens são uma ordem de seres na criação de Deus que são inferiores aos anjos. No capítulo 1:4, o escritor disse que Cristo é “mais excelente do que os anjos”. Essas declarações não se contradizem; um enfatiza Sua divindade e a outra Sua humanidade. Assim, ao descer para Se juntar à humanidade, o Senhor passou pelos anjos e tomou sobre Si a descendência de Abraão (v. 16). Sendo um Homem, aceitou limitações da criatura (embora, Ele próprio, não fosse uma criatura) e caminhou por este mundo em humilde dependência e obediência a Seu Pai. O Salmo não fala de Sua morte, mas passa por ela para nos falar de Sua posição atual como elevado ao alto – “de glória e de honra O coroaste”. O Salmo também diz: “e O constituíste sobre as obras de Tuas mãos. Todas as coisas Lhe sujeitaste debaixo dos pés”. Sendo que este é um salmo referente ao Milênio, isto ainda não aconteceu. Refere-se à intenção de Deus de que o homem governe o mundo vindouro na Pessoa de Cristo. Naquele dia, Ele terá publicamente domínio sobre todos como um Homem glorificado.
V. 8b – O escritor interrompe citando o Salmo 8 neste ponto porque esse salmo vê o domínio de Cristo como sendo limitado a “todas as coisas” na Terra e no mar. O Velho Testamento não vai além do lado terreno do reinado do Messias. No entanto, o Novo Testamento revela que o domínio de Cristo será sobre uma gama muito maior de coisas, incluindo coisas no céu (Ef 1:10; Fp 2:10). Portanto, sob inspiração, o escritor acrescenta: “nada deixou que Lhe não esteja sujeito”. Isso vai além do alcance do Salmo 8 e abrange todo o universo. Uma vez que isso ainda está no futuro, ele afirma que a manifestação pública disso não é vista atualmente no mundo – “Mas, agora, ainda não vemos que todas as coisas Lhe estejam sujeitas”.
V. 9 – Embora ainda não vejamos Cristo reinar publicamente sobre o universo, os olhos de fé O veem “coroado de glória e de honra” à destra de Deus. Este é o lugar onde Ele está agora como um Homem glorificado. O escritor continua a nos dizer por que Cristo foi feito um pouco menor que os anjos – foi “por causa da paixão da morte”. Isso também é algo que o Salmo 8 não menciona. Isso mostra que, ao entrar no lugar do homem e Se tornar um Homem, Cristo assumiu as responsabilidades que vieram com isso. Por isso, tornar-Se Homem era provar “a morte por todas as coisas” (JND). Esse é o aspecto mais amplo da obra de Cristo na cruz. É isso que cuidou de toda a eclosão do pecado e do estrago que ele causou na criação. Isso nos mostra o quão longe os efeitos do pecado têm ido; não só tocou a raça de Adão, mas também toda a criação inferior sob ele. Por isso, Cristo morreu não apenas pelos homens, mas também pelo que o pecado causou na criação.
Se Cristo como um Homem deve reinar sobre a herança – que é toda coisa criada no céu e na Terra – Ele deve obter o direito a ela por Sua aquisição na cruz. É por isso que diz que Cristo provou a morte por “todas as coisas” (JND). Ele comprou “o campo” (“o campo é o mundo” inteiro – [o cosmo, no grego]); isso inclui tanto homens quanto coisas (Mt 13:38, 44). Consequentemente, Ele pagou o preço pelo direito de possessão do mundo inteiro e tudo que está no mundo.
V. 10 – Se é para Deus, “para Quem são todas as coisas e mediante Quem tudo existe”, ter o Seu propósito cumprido no mundo vindouro, de ter a criação sob o governo do homem, terá que ser por meio de uma nova raça de homens. Mas, para que esta nova raça exista, primeiro deve ter uma Cabeça. Colossenses 1:18 afirma que quando o Senhor Jesus Cristo ressuscitou “de entre os mortos” (ARA), Ele Se tornou o “princípio” (e, portanto, Cabeça) desta raça da nova criação (Ap 3:14). O escritor de Hebreus refere-se a isto, afirmando que se Deus fosse trazer “muitos filhos” (uma nova raça de homens) para “glória”, o “Capitão [Autor] (o Senhor Jesus Cristo) teria primeiro de ser feito “perfeito”. Isso se refere à ressurreição e glorificação de Cristo (Lc 13:32; Hb 5:9). Isso mostra que tinha que haver uma Cabeça glorificada antes que pudesse haver uma raça glorificada debaixo d’Ele. Todos os que creram no evangelho e, assim, estão “em Cristo” fazem parte dessa raça da “nova criação” (2 Co 5:17; Gl 6:15; Ef 2:10). Enquanto Cristo está presentemente glorificado, a nova raça sob Ele ainda não foi levada à glória – isto é, ser levada a uma condição glorificada. Essa mudança aguarda o momento do Arrebatamento (Fp 3:21; 1 Ts 4:15-17).
O que é surpreendente sobre isso é que quando Cristo ressuscitou dos mortos e subiu aos céus como um Homem, Ele passou pelos anjos pela segunda vez, e levou a humanidade para um lugar muito acima dos anjos! É-nos dito que quando Ele entrou nos céus como um Homem, Ele Se assentou em um lugar “acima [muito acima – TB] de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1:21). (Principado e poder etc. são seres angélicos.) Assim, a Cabeça desta nova raça está em um lugar acima dos anjos, e como os crentes estão “em Cristo” (2 Co 5:17), estão naquele lugar também! Isto significa que há agora toda uma raça de homens sob Cristo que é superior aos anjos! A primeira ordem do homem foi feita um pouco abaixo dos anjos, mas essa nova raça de homens sob Cristo não é um pouco maior que os anjos – é “muito acima” (TB) dos anjos! Os homens nesta nova raça são agora a mais alta ordem das criaturas de Deus. Somos dessa nova ordem de humanidade agora. Atualmente, não parece ser assim porque ainda estamos em nossos corpos de humilhação (Fp 3:21), que são parte da velha ordem de humanidade, mas “assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:49; 1 Jo 3:2). Isto é, há um dia chegando quando seremos glorificados como Cristo (Rm 8:17, 30) e assim seremos adequados para reinar com Ele no mundo vindouro.
Nota: era a vontade de Deus que Cristo fosse aperfeiçoado “pelos sofrimentos” (TB). Isso se refere ao que Ele passou quando andou neste mundo. Estes não foram os sofrimentos expiatórios do Senhor, mas os sofrimentos que O prepararam para ser nosso Sumo Sacerdote. Ele agora é capaz de Se compadecer de Seu povo que está passando por sofrimento e provas no caminho de fé porque Ele sentiu o mesmo (v. 18).
V. 11 – O escritor continua mostrando quão perfeitamente aqueles da raça da nova criação são adequados a Cristo. Ele diz: “Porque, assim O que santifica (Cristo) como os que são santificados (os Cristãos), são todos de um”. Isto se refere àqueles da nova raça sendo da mesma natureza e espécie como o próprio Cristo. “Todos de um” não está se referindo à unidade do corpo de Cristo, nem está falando da unidade na família de Deus, mas da nossa singularidade de espécie com Cristo na nova criação. Assim, Cristo e Seus irmãos são de uma mesma posição e espécie.
Um exemplo da singularidade de espécie é quando a esposa de Adão foi trazida a ele. Ele tinha visto todos os vários tipos de criaturas passarem diante de si; cada uma era “conforme a sua espécie” (Gn 1:21, 24-25). Não havia, no entanto, nenhuma encontrada entre elas que fosse da espécie de Adão, e assim, todas essas eram inadequadas para ele. Mas quando Deus levou a mulher a Adão, ele viu alguém que era da sua própria espécie e disse: “Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2:23). Longe de ser o pensamento, mas se Adão tivesse sido forçado a tomar uma outra criatura para ser sua esposa, teria se envergonhado, mas quando Deus lhe trouxe a mulher, que era de sua espécie, ele ficou muito feliz. Da mesma forma, somos “um” em espécie com Cristo nesta nova ordem de humanidade e, portanto, inteiramente adequados a Ele. Por isso, Ele “não Se envergonha de lhes chamar irmãos”.
É importante notar, no entanto, que, embora Ele não tenha vergonha de nos chamar de “irmãos”, a Palavra de Deus nunca diz que devemos chamá-Lo de nosso “Irmão mais velho” ou outros termos de familiaridade. Lembremo-nos de que Ele é “o Primogênito entre muitos irmãos” (Rm. 8:29). Como tal, Ele tem um lugar de preeminência entre os outros na raça e há uma glória especial que pertence somente a Ele – que é o que o “Primogênito” indica. É uma “glória” que veremos, mas não é compartilhada conosco (Jo 17:24). As palavras do Senhor para Maria indicam este lugar especial que pertence a Ele. Ele disse: “Subo para Meu Pai e vosso Pai; Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). Ele não disse “nosso” Pai e “nosso” Deus, mas menciona a Si mesmo em relação a Seu Pai e Seu Deus separadamente dos crentes, mostrando que Ele tem um lugar de distinção na raça da nova criação. Assim sendo, devemos ter cuidado para não falar com Ele ou sobre Ele em termos de familiaridade.
Vs. 12-13 – Três passagens das Escrituras do Velho Testamento são citadas para mostrar a plena identificação de Cristo com Seus irmãos neste novo relacionamento. Enquanto Cristo deve ser distinguido como o Proeminente na nova criação, estas citações servem para provar quão completamente o Santificador e os santificados estão unidos.
A primeira citação do Velho Testamento é do Salmo 22:22: “declararei o Teu nome a Meus irmãos; louvar-Te-ei no meio da congregação. A palavra “congregação” neste versículo não se refere à Igreja como em outras partes do Novo Testamento (Mt 16:18, etc.) Se estivesse falando da Igreja, então a Igreja estaria no Velho Testamento – mas isso contradiz Romanos 16:25; Efésios 3:3-5; Colossenses 1:24-26. A palavra “assembleia” no Salmo 22 está se referindo a toda companhia celestial de santos dos tempos do Velho e do Novo Testamento, que serão ressuscitados e glorificados em um dia vindouro. J. N. Darby comentou: “A assembleia não é encontrada na Epístola aos Hebreus, salvo em uma alusão a todos os incluídos na glória milenar no capítulo 12” (Synopsis of the Books of the Bible, on Hebrews 1-2). Na nota de rodapé de sua tradução em Hebreus 9:11 diz algo semelhante: “A Epístola aos Hebreus, embora endereçada aos Cristãos sobre os mais preciosos assuntos, não entra na própria posição da Igreja: uma vez se refere à Igreja como estando no céu no capítulo 12” (versão de notas completas). Veja Collected Writings of J. N. Darby, vol. 10, pág. 245.
O ponto da citação não é ensinar que a Igreja está no Velho Testamento, mas mostrar que depois que a redenção fosse completada, o tema do louvor de Cristo e dos redimidos seria um em entendimento quanto ao que Ele realizou em Sua morte. J. N. Darby disse: “O versículo 12 é uma citação do Salmo 22:22, onde Jesus em ressurreição toma o lugar de Líder do louvor de Seus irmãos. Nossos hinos de louvor devem, portanto, estar de acordo com os d’Ele. Ele passou pela morte por nós; e se nossa adoração expressa incerteza e dúvida em vez de gozo e segurança no sentido de redenção consumada, não pode haver harmonia, mas discórdia com a mente do céu” (Collected Writings, vol. 27, pág. 343). O Senhor conduz o louvor dos remidos hoje nestes tempos Cristãos, quando os santos estão reunidos porque Ele e os remidos são um em seu tema de louvor, se estiverem em comunhão com Ele.
A segunda citação é de Isaías 8:17 (a versão Septuaginta): “n’Ele ponho a Minha confiança”. Tendo Se tornado um Homem, Cristo aceitou as limitações da criatura (embora não sendo Ele mesmo uma criatura) e assim vive em expressa dependência de Deus. Uma vez que Ele permanecerá um Homem para a eternidade, Ele sempre terá um lugar de sujeição ao Pai junto com Seus irmãos.
A terceira citação é de Isaías 8:18. “Eis-Me aqui a Mim, e aos filhos que Deus Me deu”. Novamente, isso é citado em prol do princípio envolvido; não ensina que somos filhos de Cristo. Somos “filhos de Deus” (Jo 1:12; Rm 8:16; 1 Jo 3:1) e, como tais, somos “co-herdeiros com Cristo” (Rm 8:17 – ARA). Esta citação mostra que o Santificador e os santificados são um em natureza, tendo a mesma vida.
Assim, somos um com Ele em nosso louvor a Deus, em nossa dependência de Deus e em termos a mesma vida e natureza.
Em resumo, esta passagem (vs. 5-13) mostra que Deus foi plenamente justificado com relação à queda do homem, e que Seu propósito concernente ao domínio do homem no mundo vindouro será realizado por meio de uma nova raça de homens sob Cristo. Tudo isso é algo que nenhum anjo poderia cumprir e, portanto, a superioridade de Cristo sobre eles é aqui distinguida.

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